segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Alguns momentos me vêm à mente. Fecho os olhos e me vejo em pé no berço, devia ter uns dois anos. O quarto estava escuro, acho que estou esperando alguém me tirar dali. E a imagem se apaga. Não me lembro o que aconteceu depois.
Dali minha mente pula para o jardim de infância, onde alguns momentos (muito poucos) aparecem. Lembro bem da aula de balé. Estou no Jardim de Infância Patinho Feio, localizado na Rua Manoel Martins, em Madureira (RJ). Minha mãe matriculou-me no balé, mas eu não quero ficar ali. Não gosto de virar cambalhotas, mas a professora insiste, insiste, tenta me obrigar. Eu não quero fazer aquela aula, eu não quero ficar ali. Emburro a cara e fico de lado e  ela força, mas eu não quero fazer. Também lembro que sou maior que as minhas colegas.
Ao chegar em casa, minha mãe decepcionada e furiosa, me dá uma surra. Apanhei porque a diretora do jardim ( Dª Lourdes) disse que não queria fazer a aula de balé. Ela me diz que eu a fiz passar vergonha, e que nunca mais faça isso.
 Fui uma decepção para meus pais.
Eles queriam se realizar em mim, e como não fiz o que eles queriam, me largaram de mão.
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Amanheci apreeensiva. A minha pressão estava um pouco alterada devido aos últimos acontecimentos. Amo meus filhos, quero ficar perto deles, mas eles me rejeitam. Para eles, estar ali ou não,  não faz a mínima diferença.
Minha senhoria, diante do meu desespero de querer saber notícias de meu filho, me empresta R$ 50,00 para que possa colocar gasolina no carro ( um scort velho), e descer ( sou carioca, mas desde 2007 moro em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro). A cidade em que moro atualmente, localiza-se a 70km do Rio de Janeiro.
Chego ao hospital por volta das 15:16 horas. Já havia passado o horário de visitas.
- Infelizmente não posso deixar a senhora sair - diz o vigilante.
E por um acaso alguém segura uma mãe preocupada?
Tratei de ir até a sala de ortopedia (emergência), e de lá peguei o elevador. Caí no segundo andar. Percorri todas as enfermarias até que o encontrei. Lá estava meu filho na enfermaria 204, leito 5.
Só faltei me jogar em cima dele, mas notei que a sua fisionomia não esboçou muita felicidade. Mesmo assim fiquei, toquei, conversei. Estava feliz.
Horas depois surge a minha filha mais velha ( Marcella), que vem na minha direção, mas não fala comigo. Procuro puxar assunto, mas ela nem olha para mim, fica de lado, de braços cruzados encostada na cama do hospital. A minha presença não agrada muito, mas nem ligo. Eu quero aproveitar e ficar perto do meu filho, sentir um pouco de sua energia, saber o que tem feito.  Tentar participar um pouco de sua vida. É difícil.
Minha mãe tirou meus filhos, irmãos e a família de mim.
Sabe, tem uma hora que a gente se cansa de correr atrás de amor, de um pouco de afeto.
Saí do hospital por volta das 19 horas.
Cheguei em casa às 21 horas.
Enviei um torpedo, não obtive resposta.


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